segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sem título. Sem reação, sem alegria, sem compreensão.

"Ele andava perturbado. Há muitos dias sentia medo até da própria sombra, mas não conseguia explicar o motivo. De uns tempor pra cá, sua família começara a se irritar com o jeito do garoto - cada vez que o menino se assustava e soltava alguma exclamação, as pessoas da casa reclamavam que ele as estava incomodando com tal postura.
Naquela noite, o jovem encontrava-se na cozinha, terminando de secar a louça. Seu irmão mais velho arrumava as coisas para o jantar e reclamava da demora do garoto para guardar tudo. Cada coisa já estava em seu devido lugar, exceto por uma faca que ainda permanecia em cima da mesa; então o garoto mais velho recolheu o escorredor de louças para pendurá-lo na parede, enquanto o irmão mais novo se aproximava do objeto metálico ponteagudo e o pegava para secar.
Foi então que uma rápida sequência de acontecimentos transformou aquela noite no maior desastre.
O secador de louças se desequilibrou e caiu. O jovem que havia acabado de colocá-lo lá ficou enfurecido com isso e, sem pensar (e quem é que raciocina na hora da raiva?), atirou-o sem se preocupar para onde. O utensílio doméstico foi acertar o irmão caçula que encontrava-se com a faca na mão, ainda secando-a. O garoto foi atingido na mão, o que fez o objeto ponteagudo girar em seus dedos e cair - de ponta - na região de sua genitália.
Envolto em uma mistura de susto e dor, o menino deu um grito que faz seus pais virem correndo ver o que se passava. Ainda sem saber o que estava acontecendo, o jovem caçula sentiu as lágrimas começarem a escorrer pelo seu rosto e o coração acelerar - estava apavorado. Seu pai perguntou-lhe se estava bem e o menino foi até o banheiro conferir. Enquanto via se havia se furado, pôde ouvir o pai esbravejar e destruir o secador de louças - se cortando na tentativa.
O garoto voltou à cozinha e foi recebido com broncas e acusações do pai que, ao ver que o filho não estava machucado, começou a reclamar do susto que o menino lhe dera ao gritar. Disse que o filho tinha sérios problemas e que devia procurar a psiquiatria, além de tomar remédios para os nervos.
Em sua mente, o irmão mais novo tentava entender o motivo de estar sendo escuraaçado depois de ser atingido - num ataque de fúria de outra pessoa - por um escorredor de louças e uma faca. Não parecia fazer sentido. Olhou tristemente para o mais velho que, por sua vez, o chamou de lerdo e disse que "a culpa era dele por estar dando bobeira com a faca". Sequer mencionou seu erro em arremessar algo contra o irmão - sem aviso prévio! - e tampouco pediu desculpas - não, ele nunca fazia isso.
Os pais dos garotos não repreenderam o filho pela desatenção que poderia ter resultado em algo grave para o mais novo, apenas dedicaram os minutos seguintes a fazerem o caçulinha sentir-se o verdadeiro culpado - que, ainda por cima, precisava de cuidados psiquiátricos.
Tudo que conseguiu fazer em seguida foi se fechar no quarto e chorar, ainda tentando entender tudo que acontecera. A dor causada pela ponta da faca e o susto logo passaram, mas o menino demorará a superar a mágoa do irmão, que não foi capaz de demonstrar o menor arrependimento pelo que fez, e as feridas que ficaram no coração, ao perceber que era visto como um problema."


Poor: Vaca (;

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